Reabilitação
Após a entrada de um animal marinho no CRAM, disponibilizamos toda a atenção médica e meios necessários ao seu tratamento. Durante o processo de reabilitação tentamos oferecer o mais alto nível de cuidados a todos os animais. Para além do objetivo da reabilitação, também nos preocupamos em reduzir o stress dos animais e manter o seu lado selvagem, que poderá ser preponderante após a devolução à natureza.
Para a reabilitação dos animais dispomos de espaços interiores, como as salas de preparação de alimento e de internamento, laboratório e uma sala polivalente. No espaço exterior o CRAM está dotado de vários tanques de reabilitação com filtração independente, quatro deles com aquecimento e um com sistema de refrigeração, para manter os animais marinhos nas condições ideais. As nossas instalações possuem uma ala coberta que permite estar em sistema semi-aberto ou em sistema fechado, uma ala aberta e uma ala polivalente.
Quando um animal marinho resgatado ingressa no CRAM, a nossa equipa dá ao animal toda a atenção e cuidados médicos durante o seu período de reabilitação. Agimos como se de um hospital humano se tratasse quando cuidamos dos nossos pacientes. No entanto, os animais marinhos têm adaptações únicas à vida marinha que nos apresenta desafios que requerem tratamentos médicos específicos. Para que possam sobreviver no meio selvagem, os animais em reabilitação não devem ser condicionados por nós e nem nos associar ao alimento e maneio. Os animais marinhos em reabilitação no CRAM não estão habituados à interação humana. Deste modo, os procedimentos médicos e de maneio são realizados de modo a limitar a interação humana e reduzir o stress, assegurando que os animais se mantêm o mais selvagens possível.
Tentamos limitar ao máximo o contacto físico e visual com os nossos pacientes e tentamos manter os níveis de ruído baixos. Os protocolos de tratamento médico são planeados de modo a limitar o contacto humano e stress, agrupando a toma de medicações com a alimentação. O maneio dos pacientes é realizado apenas com o pessoal estritamente necessário de modo a manusear os animais em segurança.
As medidas que tomamos para assegurar o estado selvagem dos nossos pacientes também ajudam a reduzir o stress enquanto estão sob o nosso cuidado. O stress é um fator importante na saúde dos animais marinhos. Quando um animal está stressado por um período extenso de tempo pode levar a que o seu sistema imunitário não funcione normalmente tornando-o mais susceptível a doenças.
Por exemplo, os gansos-patolas são particularmente vulneráveis ao stress. Quando estão em reabilitação, estas aves são bastante susceptíveis a doenças fúngicas, tal como a aspergilose.
No CRAM, a utilização de caixas de reabilitação individuais e arejadas e a transferência destes animais para tanques de água em zonas exteriores leva a que haja uma redução de stress considerável e, por isso, uma diminuição da prevalência de aspergilose.
A reabilitação de aves marinhas é um grande desafio pois temos de proporcionar condições que permitam que as suas penas não se danifiquem e se mantenham impermeáveis. Para isso, durante o internamento no CRAM, tomamos medidas que permitam manter a penugem limpa e impermeável. Enquanto não podem ser colocados em tanques de água onde se podem lavar sozinhas, as aves são lavadas várias vezes por dia com chuveiro para remover a sujidade.
Outro problema na reabilitação das aves marinhas é o desenvolvimento de úlceras de pressão nas patas devido a estarem fora de água. Para evitar este problema, as aves que não podem estar na água são acondicionados em leitos suaves (com espuma).
Muitas vezes não nos é possível reabilitar o animal marinho resgatado e ele acaba por morrer. Nestes casos, os animais são sujeitos a necropsias pormenorizadas para avaliar a causa de morte.
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