As Tartarugas Marinhas

Atualmente, todas as sete espécies de tartarugas marinhas, com exceção da tartaruga-australiana (Natator depressus), estão incluídas na Lista Vermelha da IUCN para espécies ameaçadas. A tartaruga de Kemp (Lepidochelys kempii), a tartaruga-imbricada (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) possuem um estatuto de conservação de “criticamente ameaçada”, a tartaruga-comum ou tartaruga-bôba (Caretta caretta) e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) possuem um estatuto de “ameaçada”, e a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) é considerada “vulnerável”.

As ameaças às tartarugas marinhas variam de região para região, mas de um modo geral os principais factores de risco são a degradação e sobre-exploração do meio marinho e dos habitats costeiros e as elevadas taxas de captura acidental pelas frotas pesqueiras mundiais. Ao longo dos anos todas estas ameaças, têm conduzido a um declínio acentuado das populações de tartarugas marinhas, tornando a sua sobrevivência cada vez mais incerta e aumentando o risco de extinção para algumas espécies.

A avaliação do atual estado de conservação das tartarugas marinhas não apresenta uma imagem clara sobre o que se passa com todas as populações de tartarugas marinhas já que a informação é apenas proveniente do número de ninhos nas praias.

Por ser um dos grupos de animais que já existem há milhares de anos, por percorrerem milhares de quilómetros e por levarem cerca de uma década a atingir a maturidade sexual, as tartarugas marinhas constituem um importante indicador do estado ambiental das zonas costeiras, bem como do ambiente marinho.

Porque arrojam?

As condições climatológicas extremas que se registam no inverno podem facilitar o arrojamento de tartarugas marinhas. Com efeito, a predominância dos ventos de sul e sudoeste podem arrastar as tartarugas juvenis para as praias portuguesas, podendo mesmo registar-se algumas mortes ou traumatismos graves devido à ingestão de areia, entrada de água nos pulmões ou embate contra rochas.

Algumas das situações de arrojamento podem ser resultado de interações com artes de pesca afetando principalmente animais juvenis ou sub-adultos. Por exemplo, no palangre as tartarugas ficam acidentalmente presas nos anzóis ao tentarem alimentar-se do isco ou das próprias capturas e muitas vezes o anzol ainda vem preso ao animal. As redes de emalhar e tresmalho, pela sua operacionalidade, são a arte mais problemática na nossa costa, causando a morte por afogamento devido ao emaranhamento. Por outro lado, os cabos dos alcatruzes dificultam a navegação, havendo ainda a considerar a possibilidade de emaranhamento.

As tartarugas marinhas que arrojam vivas são transportadas para centros de reabilitação onde se realizam análises de diagnóstico de possíveis patologias, para depois se iniciar o tratamento mais adequado. O processo de recuperação das tartarugas marinhas é bastante lento, mas uma vez recuperadas, as tartarugas-marinhas são devolvidas aos oceanos.

A recolha de informação a partir de animais arrojados é uma boa oportunidade para identificar as causas de morte (patologias, captura acidental, etc.), obter padrões de distribuição e avaliar os níveis de captura acidental. Por sua vez, estes dados podem ainda contribuir para aumentar a consciencialização sobre a necessidade da aplicação de medidas de conservação para as tartarugas marinhas em águas portuguesas.

Tartaruga-boba

Nome Científico: Caretta caretta

Descrição: a sua carapaça tem um tamanho médio entre 90 – 100 cm, com um peso de 90 a 150 Kg. Tem uma cabeça grande e robusta e o seu corpo está protegido por placas córneas. A forma da carapaça é ovalada, mais longa do que larga e com as margens mais ou menos serradas. Os juvenis possuem três quilhas dorsais nas placas córneas e as margens da carapaça serradas, caracteres que desaparecem com o crescimento. Possui duas unhas em cada barbatana podendo, com o crescimento, perder uma. A sua coloração varia entre castanho e vermelho na zona costal, sendo mais clara na zona ventral, que apresenta uma cor mais amarela ou creme.

Biologia: São animais solitários de hábitos menos oceânicos do que a tartaruga-de-couro, aproximando-se bastante da costa, podendo mesmo entrar em rias, zonas estuarinas e desembocaduras de grandes rios. É uma espécie omnívora, que se alimenta de medusas, esponjas, moluscos, cefalópodes, equinodermes, e peixes, podendo, em algumas ocasiões, alimentar-se de animais marinhos mortos. A sua profundidade média de navegação é de cerca de 10 metros. O dimorfismo sexual é pouco acentuado, sendo possível verificar que os machos possuem uma carapaça mais estreita na zona posterior e apresentam uma cauda mais longa do que as fêmeas. A maturidade sexual é atingida aos 15-20 anos.

Nidificação: nidificam a intervalos de 2 a 4 anos, construindo 3 a 6 ninhos por temporada, com um intervalo de 12 a 14 dias. Colocam em média entre 100 a 126 ovos, que demoram cerca de 60 dias a incubar.

Distribuição: regiões tépidas, tropicais e subtropicais do Mediterrâneo, Atlântico, Índico e Pacífico. Existem também registos desta espécie em países do nordeste da Europa como a Noruega e as Ilhas Britânicas.

Zonas de cria: (i) Atlântico Oeste: Flórida e Carolina nos EUA, Cuba, Península do Iucatão no México, Colômbia e Brasil; (ii) Atlântico Este: Senegal e Cabo Verde, e (iii) Mediterrâneo: Turquia, Israel, Argélia, Tunísia, Líbia e Chipre.

É a espécie mais comum nas costas ibéricas e região macaronésica. É também comum no Mediterrâneo, dado que nas Ilhas Baleares se situa uma importante área de alimentação; ao sul da Península Ibérica ocorrem passagens entre o Atlântico e o Mediterrâneo, com a presença de adultos e juvenis no Mar de Alboran.

Tartaruga-de-couro

Nome Científico: Dermochelys coriacea

Descrição: é a maior tartaruga marinha que existe, atingindo um tamanho médio de 170 a 190 cm, com um peso próximo dos 300 Kg. A principal característica desta espécie é a ausência de placas córneas a proteger o corpo. Em substituição destas possui uma pele grossa e rígida de aparência coriácea que protege a carapaça de forma semelhante a um alaúde, mais largo na parte anterior e estreitando progressivamente em direção à parte posterior; possui sete cristas ou quilhas na parte dorsal e cinco no plastrão (zona ventral). Também não possui unhas. A sua coloração é negra-azulada, com manchas claras e irregulares no dorso, sendo mais clara na zona ventral, onde apresenta um plastrão de cor branca devido ao elevado número de manchas brancas.

Biologia: é um animal oceânico e solitário, aproximando-se da costa para se alimentar e reproduzir. É uma espécie omnívora, manifestando uma preferência por medusas e outros animais de corpo mole mas ingerindo igualmente crustáceos, equinodermes, peixes, cefalópodes e moluscos e complementando a sua dieta com algas e plantas marinhas. Navega a uma profundidade média de 62 metros, tendo já sido registadas imersões superiores de 1000 metros. Possui adaptações anatómicas e fisiológicas que lhe permitem manter a temperatura corporal próxima de 25°C podendo assim frequentar águas cujas temperaturas variam entre os 6°C e os 15°C. Existe um dimorfismo sexual pouco acentuado: os machos possuem o plastrão côncavo e mais afunilado na zona posterior e a sua cauda é mais longa do que nas fêmeas. Estas costumam ter uma cicatriz rosada sobre a cabeça, devido à cópula. A maturidade sexual é atingida aos 13-14 anos e a época de reprodução vai desde abril a novembro.

Nidificação: nidificam a intervalos de 2 a 3 anos, fazendo ninho 4 a 7 vezes por temporada. Colocam em média 100 ovos por ninho que são incubados durante cerca de 65 dias. Ao contrário das outras espécies de tartarugas marinhas, a tartaruga-de-couro pode mudar de praia de nidificação, embora continue a nidificar na mesma região.

Distribuição: está presente em todos os oceanos podendo distinguir-se duas subespécies: Dermochelys coriacea coriacea, típica do oceano Atlântico e que entra ocasionalmente no Mediterrâneo e Dermochelys coriacea schegelii, típica dos oceanos Índico e Pacífico. Os animais que visitam as nossas costas provêm das zonas de nidificação da costa atlântica americana e deslocam-se utilizando a corrente do Golfo, sendo nadadores muito ativos.

Tartaruga-verde

Nome Científico: Chelonia mydas

Descrição: As tartarugas verdes são as maiores das tartarugas marinhas de carapaça dura, mas têm cabeças pequenas, tendo em conta o seu tamanho total.

São exclusivamente herbívoras, e o seu nome vem da cor da gordura que possuem que tem um tom esverdeado.

A carapaça tem forma de coração. A cor pode ser preto, cinza, verde, castanho e amarelo. O plastrão é branco amarelado. Os adultos podem pesar 110-190 kg e crescer até 1-1,2 m.  O tempo de vida das tartarugas marinhas verdes é desconhecido, mas a maturidade sexual ocorre entre os 20-50 anos e a expectativa de vida pode ser de 100 ou mais anos.

Distribuição: A tartaruga verde apresenta uma distribuição global, mas são tipicamente encontradas em águas tropicais e subtropicais habitando as costas de mais de 140 países.

No Atlântico Norte, são encontradas principalmente ao longo da costa do México até Massachusetts.

Nidificação: A desova varia entre junho e setembro onde as fêmeas fazem uma média de cinco ninhos em intervalos de duas semanas a cada dois ou quatro anos.

Os ovos incubam durante dois meses antes de eclodirem.

Comportamento:  As tartarugas verdes são herbívoras e comem principalmente ervas marinhas e algas. As fêmeas retornam às praias onde nasceram para desovar podendo viajar centenas de quilómetros desde as zonas de alimentação até às praias de nidificação. Após a eclosão dos ovos as crias nadam para zonas mais afastadas da costa onde se alimentam em zonas próximas do fundo. Quando atingem uma certa idade / tamanho estas viajam para zonas costeiras de alimentação.