Arrojamento de baleia-comum na Praia da Apúlia
No dia 25 de Outubro de 2012, uma baleia-comum macho de 18,5 m e 28 toneladas arrojou na Praia da Apúlia.
Devido ao local de arrojamento e da atenção mediática do evento várias centenas de pessoas deslocaram-se ao local.
O arrojamento foi reportado à Rede de Apoio a Mamíferos Marinhos (RAMM) às 14h pelo Parque Litoral Norte que accionou as equipas mais próximas do local: técnicos da rede de arrojamentos de cetáceos envolvidos no Projecto LIFE+ MarPro (Universidade de Aveiro, Universidade do Minho, Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem e do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios – CramQ Figueira da Foz). O CramQ é o centro de recuperação especializado em cetáceos mais próximo do local. Técnicos do CramQ e do MarPro estiveram sempre em contacto telefónico para avaliar a situação e procurar soluções para a resolução do problema. Adicionalmente, o CramQ esteve sempre em contacto com peritos internacionais (médicos-veterinários pertencentes a outras redes de arrojamentos na Europa) para encontrar uma solução.
Existem 3 situações realistas para esta situação:
- Re-flutuar o animal: esta opção apenas pode ser considerada se o animal tiver boas hipóteses de sobreviver e se ainda estiver parcialmente na água. Em muitos casos, um animal arroja devido a problemas evidentes (tal como trauma) ou então sofre de problemas que não são facilmente visíveis (doença). Re-flutuar um cetáceo correctamente é desafiador, potencialmente perigoso e requer equipamento especifico. O meio de re-flutuar grandes cetáceos é através de “pontoons” e, mesmo assim, é apenas possível fazê-lo correctamente com animais até cerca de 6 metros de comprimento.O tamanho e peso da baleia (18,5m e 28 ton), as condições da costa (zona altamente rochosa) aliado ao facto de estar totalmente a seco e com a próxima maré cheia a 12h de distância tornou esta opção completamente impossível. Qualquer tentativa de mover o animal seria fatal para ele e perigoso para as pessoas envolvidas
- Eutanásia: Em certas situações, a eutanásia é a solução que poderá resultar em menos sofrimento para o animal arrojado. Nos contactos realizados pelo CramQ com peritos internacionais a hipótese da eutanásia foi discutida e as equipas deslocadas para o local foram preparadas para a realizar.
- Não fazer nada: esta opção não é tomada de ânimo leve e é tomada quando todas as outras hipóteses são consideradas. Não existe motivo para fazer algo quando fazê-lo provoca ainda mais sofrimento ao animal.
Se virmos como exemplo a baleia comum arrojada na Apúlia, a re-flutuação não era uma opção – o animal pesava 28 ton e não podia ser movido em segurança para ele e para as pessoas. A sua movimentação apenas lhe provocaria mais danos e sofrimento. A eutanásia foi sempre uma opção mas não chegou a ser necessária porque o animal acabou por falecer devido ao Síndrome de Arrojamento (morte provocada pelos danos fisiológicos associados ao processo de arrojamento).
A opção de não fazer nada e esperar que a natureza siga o seu rumo é uma outra opção frequentemente tomada (por todas as equipas especializadas no planeta) no caso de arrojamentos de baleias de grandes dimensões.
O CramQ, a SPVS, a RAMM e todas as entidades envolvidas discutiram todas as hipóteses possíveis quer entre eles quer com técnicos internacionais altamente qualificados. Tentou-se por todos os meios solucionar o problema para minimizar o sofrimento da baleia. Este tipo de eventos (arrojamentos vivos de grandes baleias) é uma situação esporádica e não existem meios logísticos instantâneos para a sua resolução quando os cenários de arrojamento são complexos.
Os arrojamentos de cetáceos sempre existiram e existirão no futuro, provavelmente com mais frequência. Os arrojamentos existem por causas naturais (doença, velhice) ou devido a influência antropogénica (colisão com embarcações, interacção com artes de pesca ou outras estruturas, poluição). A avaliação destes incidentes e a sua minimização é um trabalho de todos nós.